Arrebatamento vs Segunda Vinda: qual é a diferença?
Arrebatamento vs Segunda Vinda: Qual é a Diferença?
1. Introdução
Entre todos os temas de fim dos tempos na escatologia bíblica, poucos são mais frequentemente confundidos do que o Arrebatamento da igreja e a Segunda Vinda de Cristo. As Escrituras apresentam ambos como aspectos da futura volta de Cristo, mas eles não são o mesmo evento.
A partir de uma leitura cuidadosa do Novo Testamento, o Arrebatamento é a vinda de Cristo para os Seus santos, arrebatando-os para encontrá‑Lo nos ares e levando‑os para a casa do Pai. A Segunda Vinda é a vinda de Cristo com os Seus santos, descendo em poder e glória à terra para julgar e reinar.
Alguns estudiosos premilenistas dispensacionalistas descrevem esses eventos como duas fases de uma “Segunda Vinda” mais ampla (o Arrebatamento antes da Tribulação e a revelação após ela). Outros preferem falar em dois eventos distintos, porém relacionados. Em ambos os casos, os contrastes bíblicos são claros.
Este artigo irá expor esses contrastes: diferentes sujeitos, locais, propósitos, tempos, sinais, visibilidade e resultados.
2. O Arrebatamento: Cristo Vem para Sua Igreja
As principais passagens sobre o Arrebatamento são João 14.1–3; 1 Tessalonicenses 4.13–18; 1 Coríntios 15.51–52.
2.1 Textos Centrais
- João 14.2–3
“Na casa de meu Pai há muitas moradas. … Vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.”
Aqui Cristo promete voltar para levar Seus discípulos da terra para a casa do Pai.
- 1 Tessalonicenses 4.16–17
“Porque o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor.”
- 1 Coríntios 15.51–52
“Eis que vos digo um mistério: Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta….”
O “mistério” é que uma geração inteira de crentes receberá corpos glorificados sem passar pela morte.
2.2 Características Principais
A partir dessas e de passagens relacionadas:
- Direção: Cristo desce do céu até os ares, não até a terra (1 Ts 4.17).
- Destino: Os crentes são levados da terra para o céu—para a casa do Pai (Jo 14.2–3).
- Participantes: Somente aqueles que estão “em Cristo”—crentes da era da igreja, vivos e mortos (1 Ts 4.16).
- Ação: Os crentes são “arrebatados” (grego harpazō, “tomar com força, arrancar”) para se encontrarem com o Senhor nos ares.
- Resultado: Todos os santos da igreja recebem corpos glorificados e imortais (1 Co 15.51–53).
- Propósito: Consolo, reunião e livramento “da ira vindoura” (1 Ts 1.10; 4.18).
No Arrebatamento, Cristo vem para Sua noiva (a igreja) e a conduz ao céu antes do derramamento da ira divina na Tribulação.
3. A Segunda Vinda: Cristo Vem com Seus Santos
A Segunda Vinda em sentido estrito (muitas vezes chamada de revelação de Cristo) é descrita em Mateus 24.29–31; Zacarias 14.1–9; Apocalipse 19.11–16.
3.1 Textos Centrais
- Apocalipse 19.11,14
“Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro…. E os exércitos que há no céu o seguiam montados em cavalos brancos, vestidos de linho finíssimo, branco e puro.”
Os “exércitos que há no céu”, vestidos de linho finíssimo, correspondem à noiva de Apocalipse 19.7–8—os santos glorificados—que retornam com Cristo.
- Zacarias 14.4
“Naquele dia, os seus pés estarão sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém, para o oriente….”
- Mateus 24.30–31
“Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem… e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória. E ele enviará os seus anjos, com grande som de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos….”
Aqui Cristo vem à terra, de forma visível e pública, em juízo e glória.
3.2 Características Principais
- Direção: Cristo desce até a terra, e Seus pés pousam no monte das Oliveiras (Zc 14.4).
- Acompanhamento: Ele vem com todos os Seus santos (1 Ts 3.13; Ap 19.14).
- Propósito: Julgar as nações e estabelecer Seu reino milenar (Mt 25.31–46; Ap 20.1–6).
- Alcance: É um evento mundial e visível a todos: “todo olho o verá” (Ap 1.7).
- Resultado: O Anticristo é destruído, Satanás é aprisionado, Israel é salvo e o reino é inaugurado (2 Ts 2.8; Ap 19–20; Rm 11.26–27).
Na Segunda Vinda, Cristo não remove a igreja da terra; ao contrário, os santos já glorificados retornam com Ele para reinar.
4. Dois Eventos ou Duas Fases?
A partir de uma leitura dispensacional e premilenista das Escrituras:
- O Arrebatamento ocorre antes da septuagésima semana de Daniel (a Tribulação de sete anos; Dn 9.27).
- A Segunda Vinda ocorre depois da Tribulação (Mt 24.29–30; Ap 19).
Quer chamemos isso de “duas fases da volta de Cristo” ou de “dois eventos distintos”, eles são separados no tempo e na função:
- O Arrebatamento encerra a era da igreja e remove a igreja da terra.
- A Segunda Vinda encerra a Tribulação e introduz o Reino Milenar.
Confundir esses dois momentos gera sérios problemas de interpretação, especialmente em relação à iminência, à ira de Deus e a quem entra no reino em corpos mortais.
5. Comparação Lado a Lado: Arrebatamento vs Segunda Vinda
A tabela a seguir sintetiza contrastes bíblicos essenciais, concentrando‑se no fato de que, no Arrebatamento, Cristo vem para Seus santos, enquanto, na Segunda Vinda, Ele vem com Seus santos.
| Aspecto | Arrebatamento (Cristo vem para Seus santos) | Segunda Vinda (Cristo vem com Seus santos) |
|---|---|---|
| Textos Principais | João 14.1–3; 1 Ts 4.13–18; 1 Co 15.51–52 | Mt 24.29–31; Zc 14.1–9; Ap 19.11–16 |
| Direção e Local | Cristo desce até os ares; os crentes O encontram nas nuvens (1 Ts 4.17). | Cristo desce até a terra; Seus pés estão sobre o monte das Oliveiras (Zc 14.4). |
| Quem Está Envolvido? | Cristo vem para os crentes (“os mortos em Cristo” e os santos vivos da igreja). | Cristo vem com os crentes (“todos os seus santos”, “os exércitos do céu”) e para Israel e as nações. |
| Destino dos Santos | Os santos são levados da terra para a casa do Pai no céu (Jo 14.2–3). | Os santos retornam do céu para a terra para participar do governo de Cristo (Ap 20.4–6). |
| Propósito Principal | Ressuscitar e transformar os santos da igreja e livrá‑los da ira vindoura (1 Ts 1.10; 5.9). | Julgar as nações, destruir o Anticristo, salvar Israel e estabelecer o reino (Mt 25; Ap 19–20). |
| Visibilidade | Descrito como um evento súbito, “num abrir e fechar de olhos”, para os crentes (1 Co 15.52); não é dito que o mundo o verá. | “Todo olho o verá” (Ap 1.7); acompanhado de sinais cósmicos e grande glória (Mt 24.29–30). |
| Relação com a Tribulação | Antes do dia da ira do Senhor; a igreja é prometida livramento “da hora da provação” (1 Ts 1.10; Ap 3.10). | Depois da Tribulação: “Logo em seguida à tribulação… verão o Filho do Homem vindo” (Mt 24.29–30). |
| Relação com a Ira de Deus | A igreja é removida do tempo da ira; “não nos destinou Deus para a ira” (1 Ts 5.9). | Cristo executa pessoalmente a ira; “Ele mesmo pisa o lagar do vinho do furor da ira de Deus” (Ap 19.15). |
| Juízo vs. Consolo | Ênfase em consolo e esperança: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (1 Ts 4.18). | Ênfase em juízo e pranto entre os impenitentes (Mt 24.30; Ap 19.15–21). |
| Iminência | Apresentado como uma esperança iminente, sem sinais prévios (“perto está o Senhor”, Fp 4.5; Tt 2.13). | Precedido por sinais claros e identificáveis nos céus e na terra (Mt 24.15–30; Ap 6–18). |
| Efeito nos Corpos dos Crentes | Todos os santos da igreja são glorificados—“todos seremos transformados” (1 Co 15.51). | Crentes que sobrevivem à Tribulação permanecem em corpos mortais para repovoar o reino (Mt 25.31–34; Is 65.20–23). |
Esses contrastes não são artificiais. Eles surgem naturalmente da comparação honesta dos textos relevantes.
6. Diferentes Audiências e Programas: Igreja vs Israel e as Nações
6.1 O Arrebatamento e a Igreja
O Arrebatamento diz respeito explicitamente àqueles que estão “em Cristo” (1 Ts 4.16; 1 Co 15.22–23). Essa expressão é específica da era da igreja, iniciada em Pentecostes com o batismo no Espírito (At 2; 1 Co 12.13). No Arrebatamento:
- A missão terrena da igreja se encerra.
- A igreja é levada para a casa do Pai (Jo 14.2–3).
- Ocorrem o tribunal de Cristo e as bodas do Cordeiro, no céu (2 Co 5.10; Ap 19.7–9).
6.2 A Segunda Vinda, Israel e as Nações
Em contraste, a Segunda Vinda concentra‑se em Israel e nas nações gentílicas:
- Cumpre as alianças e promessas do Antigo Testamento feitas a Israel (Gn 12.1–3; 2 Sm 7.12–16; Jr 31.31–34).
- Culmina a septuagésima semana de Daniel, decretada sobre “o teu povo e a tua santa cidade” (Dn 9.24).
- Inaugura o arrependimento e a restauração nacional de Israel (Zc 12.10; 13.1; Rm 11.26–27).
- Traz o juízo das ovelhas e dos bodes sobre as nações (Mt 25.31–46).
Assim, o Arrebatamento diz respeito principalmente ao programa de Deus para a igreja, enquanto a Segunda Vinda está ligada ao Seu programa para Israel e o mundo.
7. Diferentes Implicações Práticas
Como o Arrebatamento e a Segunda Vinda são diferentes em natureza e tempo, eles geram aplicações distintas para os crentes.
7.1 O Arrebatamento: Esperança Purificadora
A esperança iminente de que Cristo pode vir a qualquer momento para Sua igreja:
- Motiva à vida santa:
“E todo aquele que tem esta esperança nele purifica‑se a si mesmo, assim como ele é puro.” (1 João 3.3)
- Incentiva ao serviço perseverante:
“Sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor.” (1 Co 15.58)
- Proporciona profundo consolo na perda:
“Para que não vos entristeçais como os demais, que não têm esperança.” (1 Ts 4.13)
7.2 A Segunda Vinda: Advertência Solene
A certeza de que Cristo virá em juízo com Seus santos:
- Adverte os perdidos sobre a futura ira e prestação de contas (At 17.31; Ap 19.11–16).
- Assegura aos crentes que a justiça prevalecerá, e o mal será julgado.
- Firma nossa expectativa de um reino futuro e terreno, em que Cristo reinará em justiça (Ap 20.1–6; Is 11; Sl 2).
8. Conclusão
A escatologia bíblica distingue com clareza entre:
- O Arrebatamento—quando Cristo vem para Seus santos, nos ares, para levá‑los à casa do Pai antes do derramamento da ira divina; e
- A Segunda Vinda—quando Cristo vem com Seus santos, à terra, em poder e glória visíveis, para julgar e reinar.
Quer sejam descritos como duas fases da volta de Cristo ou como dois eventos relacionados, seus contrastes em participantes, lugar, propósito, tempo, visibilidade e resultado são por demais significativos para serem fundidos em uma única ocorrência.
Manter essas distinções preserva:
- A esperança iminente e consoladora do Arrebatamento da igreja, e
- O triunfo público e glorioso da Segunda Vinda de Cristo.
Ambos são certos. Cristo virá para os Seus; depois virá com os Seus. A questão mais urgente não é quando esses eventos ocorrerão, mas se você está entre aqueles que pertencem a Ele e estão preparados para a Sua vinda.
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