O Pré-tribulacionismo Examinado

Última atualização: 25 de dezembro de 2025Escatologia

O Pré-Tribulacionismo Examinado

1. Introdução

O pré-tribulacionismo ensina que o Arrebatamento da igreja — o ato em que crentes vivos e mortos são arrebatados para encontrar Cristo nos ares (1 Tessalonicenses 4.13–18) — ocorre antes da futura Tribulação de sete anos (a septuagésima semana de Daniel, Daniel 9.24–27). Após esse período de juízo sem precedente, Cristo voltará em glória à terra com os Seus santos para estabelecer o Seu reino milenar (Apocalipse 19–20).

Este artigo examina a visão do Arrebatamento pré-tribulacional, avaliando seus fundamentos bíblicos e principais argumentos. Embora existam outras posições (meso-tribulacionismo, pós-tribulacionismo, pré-ira, Arrebatamento parcial), nosso foco é a afirmação de que o Arrebatamento antes da Tribulação é o que melhor harmoniza as Escrituras, especialmente quando mantemos uma interpretação profética consistente, literal e dispensacional.


2. Distinção entre Israel e a Igreja

Uma característica central do pré-tribulacionismo é a distinção entre Israel e a igreja no programa profético de Deus.

2.1 A Igreja como um Povo Novo e Único

O Novo Testamento apresenta a igreja como um “mistério” que não foi revelado no Antigo Testamento, mas desvelado na era apostólica (Efésios 3.3–6; Colossenses 1.26–27). Os crentes desta era são unidos em “um só corpo” por meio da obra batizadora do Espírito Santo:

“Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres…”
1 Coríntios 12.13

Esse corpo batizado pelo Espírito teve início no Pentecostes (Atos 2) e será completado no Arrebatamento. Nenhuma passagem do Antigo Testamento revela claramente esse corpo; Israel e a igreja não são intercambiáveis.

2.2 A Septuagésima Semana de Daniel e Israel

A profecia das setenta “semanas” de Daniel 9.24–27 refere-se explicitamente a:

“o teu povo e a tua santa cidade”
Daniel 9.24

“Teu povo” = Israel; “tua santa cidade” = Jerusalém. As primeiras 69 “semanas” (unidades de sete anos) culminaram na primeira vinda do Messias e em Sua rejeição (Daniel 9.26). A septuagésima semana — um período futuro de sete anos — ainda não se cumpriu e está ligada à restauração final de Israel.

Chama atenção o fato de que a igreja não existia durante as primeiras 69 semanas e não é mencionada na profecia. Isso sugere fortemente que a septuagésima semana também é focada em Israel, não na igreja. O pré-tribulacionismo se encaixa naturalmente nessa estrutura: a era da igreja é um parêntese entre a 69ª e a 70ª “semana”; a igreja é completada e removida antes que Deus retome Seu trato pactual com Israel na Tribulação.

2.3 O Propósito da Tribulação

A Tribulação é descrita de forma consistente como centrada em Israel:

  • “tempo de angústia para Jacó” (Jeremias 30.7)
  • período que culmina no arrependimento nacional de Israel (Zacarias 12.10; Romanos 11.26–27)

Os propósitos principais são:

  1. Purificar e preparar Israel para receber o seu Messias.
  2. Julgar o mundo incrédulo (os “habitantes da terra” em Apocalipse).

A igreja, já justificada e santificada posicionalmente em Cristo (Romanos 8.1; Efésios 1.3–7), não é objeto dessa ira. Essa distinção entre Israel e a igreja é um motivo estrutural chave para esperar a remoção da igreja antes que a septuagésima semana comece.


3. Isenção da Ira Divina

O Novo Testamento promete explicitamente que os crentes da era da igreja não foram destinados para a ira divina.

3.1 1 Tessalonicenses: Livres da Ira Vindoura

Paulo elogia os tessalonicenses por sua conversão e esperança:

“…e esperar dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura.”
1 Tessalonicenses 1.10

Mais adiante, ele declara:

“Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação, mediante nosso Senhor Jesus Cristo.”
1 Tessalonicenses 5.9

No contexto:

  • 1 Tessalonicenses 4.13–18 descreve o Arrebatamento.
  • 1 Tessalonicenses 5.1–11 trata do Dia do Senhor — um tempo de repentina destruição e trevas sobre o mundo incrédulo.

Os crentes são claramente distinguidos daqueles sobre quem essa destruição recai (note os pronomes “eles…lhes” em contraste com “vós…nós” em 1 Tessalonicenses 5.3–5). O destino da igreja é salvação, não ira; por isso devemos “consolar uns aos outros com estas palavras” (4.18; 5.11). Isso sustenta fortemente uma remoção pré-ira, melhor explicada por um Arrebatamento pré-tribulacional.

3.2 Apocalipse 3.10 – Guardados da Hora

A promessa de Cristo à igreja fiel em Filadélfia é paradigmática:

“Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra.”
Apocalipse 3.10

Observações importantes:

  • A promessa não é apenas ser guardado na provação, mas “guardado da hora da provação” — ou seja, do próprio período de tempo (“hora”) de prova global.
  • O alcance é “o mundo inteiro”; não se trata de uma perseguição localizada, mas de um juízo abrangente, que corresponde à Tribulação em Apocalipse 6–19.
  • O meio dessa proteção é ligado à Sua vinda: “Venho sem demora” (Apocalipse 3.11).

A expressão grega tēreō ek (“guardar…de”) naturalmente indica preservação fora de, não proteção estando dentro. O único outro uso no Novo Testamento (João 17.15) fala de ser guardado do maligno, não preservado em segurança sob o seu domínio. Ao acrescentarmos que multidões de crentes são martirizados durante a Tribulação (Apocalipse 6.9–11; 7.9–14), a promessa de Apocalipse 3.10 não pode significar “nenhum crente morrerá”; deve significar que a igreja, como tal, será removida daquela hora.

Assim, a igreja recebe a promessa de isenção do tempo da ira — não apenas da sua fase mais severa. Isso sustenta um Arrebatamento antes do início da Tribulação de sete anos.


4. A Esperança Imediata da Vinda de Cristo

O pré-tribulacionismo preserva de modo único o ensino do Novo Testamento de que a vinda de Cristo para Sua igreja é iminente — pode ocorrer a qualquer momento.

4.1 Linguagem de Expectativa no Novo Testamento

Os crentes são ordenados a:

  • “esperar dos céus o seu Filho” (1 Tessalonicenses 1.10)
  • “aguardar dos céus o Salvador” (Filipenses 3.20)
  • “aguardar a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2.13)
  • viver sabendo que “o Senhor está perto” (Filipenses 4.5)
  • reconhecer que “o Juiz está às portas” (Tiago 5.8–9)

A palavra aramaica de vigília da igreja primitiva, “Maranata” (1 Coríntios 16.22) — “Vem, Senhor!” — expressa essa expectativa de qualquer momento. Nenhum evento profético intermediário é apresentado como algo que tenha de ocorrer antes do Arrebatamento.

4.2 Incompatibilidade da Iminência com Outros Momentos

Todas as posições não pré-tribulacionais colocam eventos profetizados e conhecidos antes do Arrebatamento:

  • Meso-tribulacionismo: pelo menos os primeiros 3½ anos da Tribulação, incluindo os juízos iniciais e a ascensão do Anticristo, devem ocorrer primeiro.
  • Pré-ira: aproximadamente 5 ou mais anos de Tribulação precisam transcorrer antes do Arrebatamento “pré-ira”.
  • Pós-tribulacionismo: toda a Tribulação, incluindo a Abominação da Desolação, as trombetas, as taças e o Armagedom, deve preceder o Arrebatamento.

Em tais esquemas, os crentes não podem dizer com sinceridade: “Cristo pode vir hoje”; devem dizer: “Cristo não pode vir até que X, Y e Z aconteçam”. Isso contradiz diretamente a postura de imediatismo do Novo Testamento.

Somente um Arrebatamento pré-tribulacional preserva plenamente a doutrina bíblica da iminência.


5. A Ausência da Igreja em Apocalipse 4–19

O fluxo estrutural de Apocalipse sustenta fortemente um Arrebatamento antes da Tribulação.

5.1 Ekklesia em Apocalipse

  • Apocalipse 1–3: a palavra ekklesia (“igreja”) ocorre 19 vezes, em mensagens a igrejas reais do primeiro século que também representam a era da igreja.
  • Apocalipse 4–19: não há menção da igreja na terra.
  • Apocalipse 22.16: ekklesia reaparece no epílogo.

A partir do capítulo 4, o foco se desloca da igreja para Israel, as nações, os 144.000 das tribos de Israel e “os que habitam sobre a terra”. Os selos, trombetas e taças descrevem juízos globais sem referência à presença ou ao ministério da igreja. Isso é difícil de explicar se a igreja estivesse supostamente no centro dos acontecimentos na terra durante esse período.

5.2 Quem São os Vinte e Quatro Anciãos?

Uma explicação convincente é que os vinte e quatro anciãos ao redor do trono de Deus (Apocalipse 4.4, 10; 5.5–10; 7.11–13; 11.16; 19.4) representam a igreja glorificada no céu:

  • São chamados de “anciãos” — termo ligado à representação do povo de Deus, especialmente em contexto de igreja.
  • Sentam-se em tronos, privilégio prometido aos vencedores na igreja (Apocalipse 3.21).
  • Vestem vestes brancas e usam coroas, em consonância com as promessas aos crentes da era da igreja (Apocalipse 2.10; 3.5, 18; 19.7–8).
  • Cantam um cântico de redenção de “toda tribo, língua, povo e nação” (Apocalipse 5.9–10), o que se ajusta à natureza multiétnica da igreja.
  • São claramente distintos dos anjos (Apocalipse 5.11).

Se esses anciãos simbolizam a igreja completada no céu antes do início dos juízos dos selos (Apocalipse 6), a implicação é evidente: a igreja foi arrebatada antes da Tribulação.


6. O Restritor e a Revelação do Homem da Iniquidade

2 Tessalonicenses 2 vincula a revelação do Anticristo (“o homem da iniquidade”) à remoção de uma força restritiva:

“E, agora, sabeis o que o detém, para que ele seja revelado somente em ocasião própria.… Aquele, porém, que agora o detém, o fará até que seja afastado. Então, será, de fato, revelado o iníquo…”
2 Tessalonicenses 2.6–8

O restritor:

  • está atualmente em ação;
  • impede a manifestação plena da iniquidade mundial e do Anticristo;
  • será removido (“afastado”) antes da revelação do homem do pecado.

A identificação mais consistente é a obra restritiva do Espírito Santo por meio da igreja. Quando a igreja for arrebatada, essa atuação restritiva corporativa será encerrada, permitindo que o Anticristo seja revelado e que a septuagésima semana de Daniel tenha início.

Essa sequência — igreja removida → restritor retirado → Anticristo revelado → Dia do Senhor começa — se ajusta com exatidão ao pré-tribulacionismo e explica por que os tessalonicenses ficaram alarmados com a falsa alegação de que “o Dia do Senhor já chegou” (2 Tessalonicenses 2.2): eles esperavam ser removidos antes, não se encontrar dentro desse dia.


7. Arrebatamento e Segunda Vinda: Uma Vinda em Duas Fases

A Escritura descreve dois aspectos distintos, embora relacionados, da futura vinda de Cristo:

  • Arrebatamento: Cristo vem para os Seus santos, nos ares, para levá-los à casa do Pai (João 14.1–3; 1 Tessalonicenses 4.13–18).
  • Revelação/Segunda Vinda: Cristo vem com os Seus santos, à terra, para julgar e reinar (Zacarias 14.4–5; Mateus 24.29–31; Apocalipse 19.11–16).

Uma comparação revela diferenças marcantes:

AspectoArrebatamento (1Ts 4; 1Co 15)Segunda Vinda (Mt 24; Ap 19)
DireçãoCristo vem até os ares; santos são arrebatadosCristo desce à terra
ParticipantesApenas crentesToda a humanidade envolvida
FocoRessurreição e transformação, consoloJuízo e estabelecimento do reino
SinaisNenhum sinal prévio exigido; iminentePrecedida por muitos sinais profetizados
DestinoSantos levados à casa do PaiSantos retornam com Cristo para reinar na terra

Esses aspectos são melhor compreendidos como duas fases de uma única Segunda Vinda, separadas pela Tribulação. Um Arrebatamento pré-tribulacional respeita essas distinções e os diferentes ênfases pastorais: consolo e esperança, por um lado, versus advertência e juízo, por outro.


8. Conclusão

Ao sintetizarmos as principais linhas de evidência bíblica, o pré-tribulacionismo emerge como a visão mais coerente e textualmente fundamentada sobre o momento do Arrebatamento:

  • Honra a distinção entre Israel e a igreja, mantendo a septuagésima semana de Daniel focada em Israel e nas nações.
  • Leva a sério a promessa de isenção da ira divina feita à igreja e a promessa específica de ser guardada da hora da provação global.
  • Preserva a expectativa iminente do Novo Testamento quanto à vinda de Cristo por Sua noiva.
  • Explica a ausência da igreja em Apocalipse 4–19 e a presença dos vinte e quatro anciãos no céu.
  • Harmoniza o ensino de 2 Tessalonicenses 2 sobre o restritor e a revelação do homem da iniquidade.
  • Enquadra-se no padrão em duas fases do retorno de Cristo — primeiro por Seus santos, depois com eles.

Outras cronologias do Arrebatamento são capazes de reunir alguns argumentos, mas inevitavelmente embaralham a distinção entre Israel e a igreja, enfraquecem a iminência ou criam tensões cronológicas e teológicas sérias (por exemplo: quem povoará o Milênio em corpos naturais, como o tribunal de Cristo e as bodas do Cordeiro se encaixam, e por que a igreja nunca é mencionada nos principais textos sobre a Tribulação).

A partir de uma leitura profética consistente, literal e evangélica das Escrituras, o Arrebatamento pré-tribulacional não é apenas atraente — é a explicação mais biblicamente consistente de como Cristo reunirá Sua igreja antes que os juízos finais de Deus caiam sobre um mundo rebelde e antes que Ele volte a tratar com Israel em misericórdia pactual.

Os crentes, portanto, têm razão em viver em santa expectativa, “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2.13).

Artigos Relacionados